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Olhar Olímpico

Cielo desfruta papel de azarão em sua 5ª e, talvez, última final de Mundial

Demétrio Vecchioli

29/07/2017 04h00

(Simone Castrovillari/SSPress/CBDA

14 de agosto de 2008. Cesar Cielo chegava à final olímpica dos 100m livre em Pequim sem a menor expectativa de medalha, na raia 8, classificado com o oitavo tempo da semifinal. Ali começaria o auge da carreira do maior nadador brasileiro da história, que surpreendeu e conquistou sua primeira medalha olímpica, de bronze. Quase nove anos depois, Cielo está de novo balizado na beira da piscina, escalado como coadjuvante em uma final cheia de protagonistas. A roupagem de azarão na decisão dos 50m livre do Mundial de Budapeste, porém, veste bem o ainda recordista mundial. Estar fora dos holofotes era tudo que ele queria.

"É tentar aproveitar essa final, que talvez seja a minha última. É a primeira que vou entrar mais relaxado em uma final. A primeira eu estava mais nervoso por ser a primeira. Depois era aquela pressão de estar na raia 4, raia 5. Dessa vez, vou entrar um pouquinho mais relaxado, aproveitar um pouco mais essa adrenalina da final e não ficar me cobrando tanto", diz Cielo, um nadador conhecido por sempre se cobrar bastante, a ponto de abandonar o último Campeonato Mundial no meio, frustrado com seu desempenho ruim.

A final dos 50m livre é a quinta seguida de Cielo em Mundiais, um recorde histórico em uma modalidade na qual se aposenta (ou se é superado) cedo. Campeão em 2015, por exemplo, o francês Florent Manaudou, de 26 anos, abandonou as piscinas e está em Budapeste como comentarista de um canal de tevê francês.  Cielo também chegou a parar, depois de não se classificar à Olimpíada do Rio, e voltou a nadar no começo desse ano.

Com apenas seis meses de treinamento, conseguiu não só a classificação para o Mundial em si, como uma medalha de prata no revezamento 4x100m livre e uma vaga na final dos 50m livre baixando sua melhor marca da temporada, para 21s77. Nas vezes em que era favorito, e de fato ganhou o ouro nos mundiais de Roma-2009, Xangai-2011 e Barcelona-2013, Cielo sempre usou o discurso de que "tem oito atletas na final, quem está na raia 8 pode surpreender e todos têm chance de medalha".

Agora é a vez de provar, de novo, que a máxima vale também na prática. "Vou nadar sem pressão. Na raia 8 não tem pressão nenhuma. É a que eu mais gosto, porque tem mais tempo de tirar a roupa. Na raia 4 chega e já tem que tirar a roupa e sair nadando", comenta Cielo. Nas semifinais e finais, os atletas são apresentados em ordem contrária ao que fizeram na eliminatória. O oitavo vai para raia 8, o sétimo vai para 1, o sexto para a 7… até que o primeiro fica na raia 4.

Mas a prioridade é só na apresentação mesmo. Na hora de nadar, todo mundo tem que fazer o mesmo serviço. "Acho que deu para ver que a medalha vai ser em torno de 21s5, o bronze. Vou tentar mirar um tempo melhor do que eu fiz na semifinal. O (norte-americano Caeleb) Dressel está meio fora do bolo e mesmo que ele estivesse nadando no bolo eu não teria como controlar o que ele vai fazer. É fazer um nado um pouco mais tranquilo, bater a mão na parede e ver o que acontece", afirma.

Depois de outras quatro finais, Cielo quer aproveitar essa que pode ser a sua última. "Não sei se vou estar em 2019", lembra. O nadador tem contrato com o Pinheiros até o fim de 2018 e diz que está nadando "temporada por temporada", para depois ver o que acontece.

Favorito – Toda a pressão da qual Cielo desta vez conseguiu se livrar parece ter ido para os ombros de Bruno Fratus. A começar pela ótima temporada que fez na Europa, nadando diversas vezes na casa de 21s5 Depois, pela própria forma de Fratus agir, aparecendo para nadar a semifinal na Duna Arena com a barba por fazer, detalhe que tira alguns preciosos centésimos do resultado final.

Fratus é do tipo que assume a bronca. Mata a bola no peito e sai jogando. Finalista de duas mundiais e duas Olimpíada e dono de apenas uma medalha de prata em Kazan-2015, o nadador de 30 anos veio para Budapeste atrás do ouro.

"Quero muito subir ao pódio, vou fazer de tudo para ganhar a prova. Esse é meu objetivo principal", avisa Fratus. "Meu objetivo é cruzar a piscina o mais rápido possível. Até por que, o que vai acontecer o que se eu não pegar pódio? Eu falo desde cedo: nado porque eu gosto, não porque alguém coloca pressão de alguma coisa. Vai ser animal ganhar a prova, pegar uma medalha, mas para mim não existe essa pressão", assegura.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.