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Olhar Olímpico

Aos 32, Felipe Lima se reinventa após perder Rio-2016 e pode repetir medalha

Demétrio Vecchioli

26/07/2017 04h00

(Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Apenas quarto melhor da seletiva brasileira para os Jogos Olímpicos do Rio, Felipe Lima parecia estar se aproximando do fim da carreira. Algo natural para um nadador então com 31 anos. Mas o mato-grossense não tinha o menor interesse de desistir. Um ano depois da frustração de ver pela tevê a Olimpíada com a qual tanto sonhou, ele chega à final dos 50m peito, neste quarta-feira, no Mundial de Budapeste, como dono do segundo melhor tempo de classificação.

"Após algum tempo de reflexão, tempo observando alguns detalhes que eu poderia ter errado no Rio e tracei nova meta. Parei para pensar e vi que ainda me sentia competitivo, me sentia bem para treinar, gosto de treinar, então decidi partir para os próximos objetivos", lembra.

O primeiro foi inédito na carreira de Felipe, que há uma década defende com regularidade a seleção brasileira. Ele decidiu correr todo o circuito da Copa do Mundo de Natação em Piscina Curta, disputado em três fases de três etapas cada. Em dois meses, entre agosto e outubro, competiu 36 vezes internacional. Isso sem contar viagens para os EUA (onde mora), o Brasil (para disputar o Troféu José Finkel) e a Malásia (onde deu uma clínica). A loucura se pagou: ele recebeu US$ 18 mil em premiação.

"Não tive apoio de ninguém, foi investimento do meu bolso. Obtive retorno e foi 100% ressarcido com as premiações. Tive uma realização profissional, fui atrás das coisas que queria, busquei outros objetivos para não ficar com a angústia de não fazer mais nada no ano. Acho que a Copa do Mundo foi fundamental para eu desse a volta por cima", avalia.

Essa volta por cima começou ainda no Mundial de Piscina Curta, em dezembro do ano passado, quando Felipe ganhou a prata com o revezamento 4x50m medley misto e o bronze nos 50m peito. Um novo sopro de esperança para o medalhista de bronze dos 100m peito no Mundial de Natação de 2013.

Quatro anos depois, os resultados voltaram a aparecer e Felipe Lima tem muito a agradecer ao seu novo técnico, o espanhol Sérgio Lopez, bronze nos 100m peito nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, e que foi contratado há pouco tempo pela Universidade de Auburn, onde o brasileiro treina. "O Sergio me fez acreditar que eu ainda poderia ser competitivo. Junto com o Jeferson Neves, meu técnico de Cuiabá, me fez acreditar que as coisas não estavam perdidas, só deram uma desencaminhada nos meus objetivos, mas eu ainda tinha muita coisa para colher. Voltei a treinar bem, a ter confiança, e os resultados aconteceram."

No Troféu Maria Lenk, seletiva brasileira para o Mundial, Felipe Lima nadou os 100m peito em 59s32 e garantiu vaga em Budapeste como melhor brasileiro. Logo no primeiro dia de competições em Budapeste, não conseguiu repetir o resultado. Parou na semifinal, com 59s48, no décimo lugar, e deixou a piscina frustrado.

Dois dias depois, voltou à piscina para nadar pela primeira vez os 50m peito na casa de 26 segundos, ontem pela manhã, e depois ganhar a sua bateria semifinal. Nesta quarta, ele é um dos candidatos à prata, junto com João Luiz Gomes Jr e o sul-africano Cameron van de Burgh. O ouro deve mesmo ir para Adam Peaty, que bateu duas vezes o recorde mundial em um só dia.

Eles devem brigar por prata e bronze, uma vez que será uma gigantesca surpresa se as duas medalhas de ouro não ficarem com o britânico Adam Peaty. "Assim como o Bolt, que foi tricampeão olímpico, outros atletas têm um grande diferencial. Ele é um desses. Ele descobriu uma maneira nova de nadar o nado peito. Ele está muito à frente dos outros, mas precisa repetir esses tempos na final. Mas é claro que se ele não errar, dificilmente ele não ganha", admite Felipe.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.