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Olhar Olímpico

'Vergonha na cara' após Rio-2016 ajudou revezamento a quebrar jejum de medalhas

Demétrio Vecchioli

24/07/2017 04h00

Focado nos 50m livre, prova na qual tinha grande expectativa de medalha na Rio-2016, Bruno Fratus sequer se classificou para nadar o revezamento 4x100m livre do Brasil na última Olimpíada. Não pôde ajudar o time formado por Marcelo Chierighini, João de Lucca, Gabriel Santos e Nicolas Oliveira a evitar o quinto lugar. E também não foi ao pódio ele mesmo na prova que é sua especialidade. A porrada foi sentida e, a lição, aprendida. E o reflexo disso é a prata conquistada neste domingo pelo 4x100m do Brasil no Mundial de Budapeste.

"Ano passado a gente tomou uma porrada e quem tem o juízo certo saiu se perguntando o que poderia ser feito de melhor, inclusive eu. Fiquei pensando: 'O que eu posso fazer para estar de volta a essa prova?'. Nem que eu fosse reserva eu deveria estar ajudando. Não ter classificado foi um golpe duro para mim. Eu tomei vergonha na cara e falei: vamos fazer esses 100m", admitiu Fratus.

Depois da semifinal, pela manhã, ele era o mais elétrico. Passou antes que os colegas pela zona mista e, antes de chegar até os repórteres, soltou um grito alto de apoio a Cesar Cielo. Depois da medalha, também era ele o menos contido, digamos assim.

"Finalmente nadamos com a gente tem que nadar. C…, finalmente a gente nadou do jeito que a história desse revezamento pede que a gente nade. Quando a gente entra para o revezamento do Brasil, a gente assina um documento que fala que a gente tem que arregaçar na competição. Esse revezamento, ainda mais com esses caras, seria inadmissível não pegar uma medalha", comentou, sempre elogiando os companheiros de revezamento.

Para ele, a medalha teve um gostinho especial, em um momento no qual se vê sem clube, depois de não ter o contrato renovado pelo Pinheiros. Com o que pagava a ele, o clube paulistano contratou exatamente Cesar Cielo, de quem Fratus nunca foi exatamente amigo. Os outros dois medalhistas, aliás, também são do Pinheiros: Marcelo Chierighini, que treinava com Bruno em Auburn, nos Estados Unidos (aceitou a condição de voltar depois do Mundial para continuar no clube) e Gabriel Santos.

Todos deixaram a piscina com a sensação de dever cumprido, de terem dado o máximo, mas Fratus deixou claro que a prata ainda não o satisfaz. "A gente estar no pódio disputando ouro é onde a gente deveria estar. A gente não pode se deslumbrar com o resultado, falar que foi demais. Não! Dá pra gente ganhar essa prova na Coreia (no Mundial de 2019) e em Tóquio."

Destaque – Apesar da atenção midiática sobre Cielo e Fratus, foi Marcelo Chierighini o grande nome por trás da conquista deste domingo. Foi ele, afinal, que fez a melhor parcial não só entre os brasileiros, mas de toda a prova: 46s85.

"Sinceramente, não consigo explicar. Estava muito calmo, nem lembro o que eu fiz, nem doeu, estava preparado, nem doeu como geralmente dói. Eu encaixei a prova perfeita. Perfeita. Eu sempre prefiro nadar o revezamento e agora estou ainda mais animado para os 100m. O que vier agora é lucro", avaliou Marcelo, que na quarta-feira começa a busca por uma medalha na prova individual.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.