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Olhar Olímpico

'Por mim, nem teria nadado a seletiva', revela Cielo após prata com revezamento

Demétrio Vecchioli

23/07/2017 15h46

Crédito: MARTIN BUREAU/AFP

Atual recordista mundial dos 100m livre, feito que carrega desde 2009, quando os trajes tecnológicos ainda eram permitidos, Cesar Cielo há tempos não tinha resultados relevantes nos 100m livre. Na seletiva para a Rio-2016, abriu mão de nadar a final e de tentar uma vaga no revezamento. Se dependesse dele, também não estaria na seletiva dos 100m para o Mundial de Budapeste. Quis o destino, porém, que não só ele se classificasse para nadar o 4x100m livre como, enfim, ajudasse a voltar a colocar o Brasil num pódio da prova após 17 anos.

"Para ser sincero, quando a gente nadou o Maria Lenk, por mim eu não queria ter entrado nos 100m. Não nado bem essa prova desde 2014. Não é desde o ano passado, faz tempo. Não treinava essa prova desde 2014. Rolava uma ansiedade por eu não me sentir confortável na prova, não estava mais no automático", admitiu Cesar Cielo, na zona mista da Duna Arena, com a medalha de prata no bolso.

Incentivado pelos técnicos, Cielo nadou o Maria Lenk, fechou a seletiva como quarto melhor brasileiro e não só a vaga no revezamento, mas também uma espécie de "obrigação" de nadá-lo. É que a CBDA só convocou 16 atletas para o Mundial, sem a opção de reservas. E nem havia a desculpa de se poupar para os 50m livre, que serão só na sexta-feira.

Os tempos obtidos por Marcelo Chierighini e Gabriel Santos no Maria Lenk, somado aos bons resultados de Bruno Fratus no circuito europeu e à ausência da equipe da França, que não veio a Budapeste, tornaram o Brasil favorito à medalha no Mundial. E aí não havia como fugir da responsabilidade. Cielo e Fratus deixaram de lado as diferenças e, junto com Chierighini e 'Gabigol' formaram um grupo de Whatsapp, o "revezamento de ouro".

"Eventualmente a gente postava algo dentro do grupo como motivação, ou perguntando como estava os treinos. Eu e o Gabriel aqui no Brasil, o Bruno e Marcelo lá nos Estados Unidos", contou Cielo. Mas foi pessoalmente que a relação entre os quatro os levou à prata. "Antes de entrar na piscina, a gente olhou um para o outro e eu mesmo falei: eu não queria estar no revezamento com outro atleta. Não queria estar com mais ninguém. Por vocês nós vamos brigar até morrer."

Foi ali que os brasileiros fizeram um pacto: melhorariam em 0s3 os respectivos tempos da manhã. No total, fizeram mais. Gabriel Santos foi de 48s84 para 48s30. Marcelo Chierighini fez a melhor marca da carreira: 46s85, depois de 47s75 pela manhã. Cielo passou em 48s01, melhorando em 0s14 seu tempo. Já Bruno Fratus entrou na piscina para tentar passar o bicampeão olímpico Nathan Adrian e chegou muito perto disso. Fez 47s18, melhorando 0s42. Na soma dos tempos, um 3min10s34 que é o novo recorde sul-americano, melhorando a marca da equipe que foi quarta colocada no Mundial de Roma, em 2009.

Desde aquela competição, Cielo não nadava um revezamento para o Brasil em um Mundial de piscina longa. Agora, ele dá mostras de que não pretende mais largar o osso, não pode vontade própria. "Essa é minha adrenalina. Não estou pondo pressão em pensar em 2020 e 2019, mas eu achei que em Doha, em 2014 (no Mundial de Piscina Curta), seria a última vez que eu subia no pódio no Mundial. Não foi. Vou começar a focar mais nos 100m livre, no meu treino com o Gabriel e aí a gente vai buscar os EUA na próxima competição. Se for importante minha presença, eu vou estar aí para ajudar no que for possível."

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.