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Olhar Olímpico

Nicholas abre Mundial em busca de recorde aos 37: 'Quero ser o melhor da história'

Demétrio Vecchioli

22/07/2017 14h00

(Satiro Sodré/SSPress)

"Uma vez estava conversando com o Anthony Ervin (bicampeão olímpico dos 50m livre) e perguntei por que ele não tentava os 50m borboleta. Ele respondeu que por ele, ele nadaria tudo. Só que ele só era bom nos 50m livre mesmo, não adiantava." Essa é uma das explicações – a mais significativa delas – que Nicholas Santos dá quando lhe perguntam por que justo os 50m borboleta, uma prova que não é olímpica. Porque é o que ele sabe nadar, oras.

E sabe nadar tão bem que aos 37 anos, Nicholas abre o Mundial de Natação, neste domingo, com uma meta ousadíssima: bater o recorde mundial. E quem conhece o nadador de Ribeirão Preto, veteraníssimo da natação brasileira, sabe que ele fala com os mesmos pés no chão que marcaram – e ainda marcam – a sua carreira.

O recorde mundial é do espanhol Rafa Munhoz, que nadou os 50m borboleta em incríveis 22s43 durante a seletiva espanhola para o Mundial de Roma de 2009, no auge dos trajes tecnológicos, baixando o antigo recorde mundial em meio segundo. No Mundial em si, a vitória ficou com o sérvio Milorad Cavić, com 22s67. Nicholas foi quinto colocado naquela prova, em 23s00.

De lá para cá muitas águas rolaram na carreira do brasileiro até que, na seletiva para o Mundial de Budapeste, veio o 22s61 que o colocou como segundo melhor tempo da história da prova, o melhor sem os tais trajes tecnológicos.

"Quero ser o melhor da história. Se tudo correr bem é bem palpável bater esse recorde", admite Nicholas, que nada as eliminatórias na manhã deste domingo (madrugada no Brasil) e tem tudo para se classificar à semifinal, à tarde. Se tudo correr bem, a final é na segunda-feira.

O otimismo tem fundamento. No dia que conversou com a reportagem do Olhar Olímpico, há duas semanas, Nicholas havia feito um "tiro" no meio do treino, para se testar. De bermuda, sem raspar, sem descansar. Uma tomada de tempo despretensiosa, sugerida pelo técnico Felipe Domingues. Não no cronômetro, que apontou 22s90.

Provas olímpicas – Nem sempre Nicholas foi um nadador de 50m borboleta. Especialista nos 50m e 100m livre, ele foi bronze no Mundial de Piscina Curta de 2004 e, no mesmo ano, perdeu por detalhes uma vaga no revezamento 4x100m livre do Brasil em Atenas. No Pan do Rio, em 2007, foi prata nos 50m livre, atrás apenas de Cesar Cielo. Em Londres-2012, nadou o 4x100m livre que ficou na semifinal.

Para tentar ir à Olimpíada do Rio, mudou de prova. Sem chances contra Cielo e Bruno Fratus nos 50m livre, resolveu se arriscar nos 100m borboleta. Foram três anos de treinos intensivos em uma nova prova, em busca do índice olímpico.

"Tive que mudar meu estilo de nadar o borboleta. Todo mundo falava: você tem que treinar para os 100m, Olimpíada é no Brasil. Eu fiz minha parte. Fiz 52s31, nadei abaixo do índice, mas fiquei com o terceiro lugar. Outros dois brasileiros fizeram índices melhores que o meu, acontece. Mas a minha chegada na prova até incentivou mais esses meninos que estavam travados em 52s4. Eu comecei a nadar bem e parece que os caras andaram" avalia.

Na preparação para o Maria Lenk, seletiva nacional para o Mundial de Budapeste, Nicholas sofreu uma lesão muscular no peitoral que o impediu de continuar treinando nado crawl. A preparação específica para os 50m borboleta deu resultado e o recorde nacional caiu. Em Budapeste, ele vai nadar só os 50m borboleta, mas estará à disposição caso a equipe precise de ajudar nos 4x100m medley, no último dia.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.