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Olhar Olímpico

Contra o preconceito, ex-namorados formam dupla para fazer história no Mundial

Demétrio Vecchioli

15/07/2017 04h00

Renan vai para onde a ex-namorada Giovana for. Se ela for para a direita, ele acompanha. Para a esquerda, também. Em cima, em baixo. O motivo é saudável. É que, apesar do fim do relacionamento amoroso, Renan Alcântara e Giovana Stephan continuam formando o dueto brasileiro que inicia neste sábado a disputa do Mundial de Budapeste, na Hungria. Será a primeira participação de um homem brasileiro em um Mundial no nado sincronizado.

"Eu e 'Gi' hoje somos grandes amigos dentro e fora d'água. Não estamos mais namorando mas temos um respeito e um carinho imenso um pelo outro e eu não poderia ter uma pessoa melhor ao meu lado me ajudando no esporte", comenta Renan, sem se prolongar sobre os motivos do fim do relacionamento.

A parceria começou em abril de 2015, pouco depois de a Federação Internacional de Natação (Fina) determinar que a prova de dueto misto estrearia no programa do Mundial de Kazan (Rússia), em agosto daquele ano. Não houve tempo de se preparar para a competição, mas em março de 2016 eles já venceriam o Campeonato Sul-Americano da modalidade como namorados.

A relação durou pelo menos um ano e, juntos, eles decidiram que Giovanna deixaria de lado a briga para estar nos Jogos do Rio, focando no trabalho com Renan. É que, naquele momento, era grande a confiança de que o dueto misto viraria prova olímpica em Tóquio, o que não aconteceu. "Mas vamos continuar treinando e melhorando cada vez mais e esperamos que esse sonho olímpico se realize, quem sabe em 2024", diz Renan.

Ele iniciou na modalidade aos 7 anos, em um projeto no Parque Aquático Julio Delamare. De lá, seguiu para o Fluminense, onde treinou até os 12 anos. Só que, como o nado sincronizado seguia sendo uma prova exclusivamente feminina, ele não podia competir. "Dessa forma eu fui parar na dança, passando pelo ballet clássico. Meus pais sempre foram ligados ao esporte e me deram todo o suporte para o nado, nunca reprimiram a minha vontade de treinar."

E foi na dança que Renan se desenvolveu esportivamente até poder de fato competir no nado sincronizado. "A dança me ajudou muito a conhecer o meu corpo, linguagem corporal, flexibilidade, musicalidade, trabalhar em equipe e diversas outras coisas."

Único homem a treinar para o nado sincronizado no Brasil, ele teve (e ainda tem) que enfrentar o preconceito. "Mas o meu sonho e vontade de prosseguir no esporte sempre foi maior do que qualquer episódio de discriminação ou preconceito. E não vai me parar. O nado sempre esteve presente na minha vida dentro ou fora das piscinas. O sonho da igualdade de gênero no esporte sempre viveu intensamente em mim".

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.