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Olhar Olímpico

Crise da CBDA faz brasileiros chegarem a Mundial com menos pressão por resultados

Demétrio Vecchioli

12/07/2017 04h00

Um ano depois de competir em casa e com pressão por resultados, os brasileiros chegam ao Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste, que começa na sexta-feira, muito mais leves. Em crise, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) não conseguiu oferecer a ninguém a preparação adequada e, assim, não se vê em condições de cobrar muita coisa.

"Essa situação é claro que tira a pressão de todo mundo. Tira deles e da gente (CBDA) também. É uma situação bastante inusitada", admite Ricardo Prado, coordenador geral de esportes da CBDA. Medalhista de prata nos 400 metros medley nos Jogos de Los Angeles, em 1984, ele foi nomeado em abril pelo interventor Gustavo Licks para cuidar da área esportiva e foi mantido no cargo pelo presidente Miguel Cagnoni, eleito em junho.

Mas, ao longo dos últimos três meses, Pradinho, como é conhecido, pouco conseguiu se dedicar à área essencialmente esportiva. Ele sequer traçou, por exemplo, uma meta de finais para a natação brasileira. "Minha prioridade foi achar uma forma de pagar as passagens e viabilizar a ida dos atletas. Nossa preocupação é com garantir que eles possam competir com tranquilidade", diz.

O cenário é completamente diferente do de um ano atrás, quando a CBDA e o Comitê Olímpico do Brasil (COB) ofereceram do bom e do melhor para toda a delegação de esportes aquáticos que foi aos Jogos do Rio. À época, atletas de diversas modalidades ainda ganhavam uma bolsa paga pelos Correios, cortada depois que a empresa estatal reduziu em quase 80% o valor mensal do patrocínio.

Esse corte de verbas enfraqueceu muito a seleção de polo aquático, por exemplo. Se a equipe masculina chegou ao Mundial de 2015, em Kazan, como uma das favoritas ao pódio, depois de ganhar bronze na Liga Mundial, este ano a equipe conta praticamente apenas com atletas amadores, alguns reservas em seus clubes no Brasil. A maior parte dos melhores jogadores do país, afinal, recusou defender a seleção após o fim da bolsa que os permitia se dedicarem exclusivamente ao esporte.

"O polo é onde a gente está com mais dificuldade. A gente fez um esforço muito grande para conseguir enviar as equipes masculina e feminina e também para que eles treinassem pelo menos um pequeno período juntos, uma vez que é um esporte coletivo. Mesmo assim, acredito que possemos ficar entre os 10 primeiros entre os homens e os 15 melhores entre as mulheres", diz o coordenador. O Mundial terá 16 times.

Vem medalha? – Apesar da crise, o Brasil chega a Budapeste com possibilidade de medalhas em pelo menos uma dezena de provas, principalmente nas maratonas aquáticas. "Eu acho que termos de medalha, é onde a gente tem melhores chances. Tanto com a Ana Marcela como com a Viviane (Jungblut) e no masculino com o Allan do Carmo", aposta Pradinho.

Vivi, de recém-completados 21 anos, deixou para trás Poliana Okimoto na seletiva brasileira e, durante a preparação para Budapeste, foi prata em uma etapa de Copa do Mundo que reuniu a elite da modalidade em Setúbal, Portugal. Ela compete nos 10km, no domingo, às 5h (de Brasília). Ana Marcela também está na prova e nos 5km, na quarta, quando terá companhia de Betina Lorscheitter. Allan do Carmo e Fernando Ponte estão tanto nos 5km (sábado) quanto nos 10km (terça). Na quinta acontece a competição por equipes e na sexta-feira a disputa de 25km.

Já a equipe de natação, com 16 nomes, chega com um grande leque de opções de pódio, especialmente nas provas curtas, com Nicholas Santos, Henrique Martins (50m borboleta), Guilherme Guido, Etiene Medeiros (50m costas), Bruno Fratus, Cesar Cielo (50m livre), João Luiz Gomes Jr, Felipe Lima (50m peito e 100m peito), Marcelo Chierighini e Gabriel Santos (100m livre), além dos revezamentos 4x100m livre e 4x100m medley.

Ricardo Prado, porém, não acredita em uma chuva de medalhas. "Eu não chego com essa expectativa (de repetir Kazan, quando o Brasil ganhou quatro medalhas). Não chego mesmo. Chego com a expectativa de ser igual aos Jogos Olímpicos. A ano após a Olimpíada é o ano mais difícil", afirma. Na Rio-2016, vale lembrar, o Brasil não foi ao pódio nenhuma vez.

O coordenador minimiza a boa posição dos brasileiros no ranking mundial. Para ele, o que importa é o que o atleta consegue mostrar no Mundial. "É errado achar esse resultado vai se concretizar. Lá é outra história. Isso é legal para o atleta chegar com a confiança de que pode conseguir. Ótimo para dar autoconfiança, para ele saber que pode competir de igual para igual.  Mas a gente já foi muitas vezes pensando assim e sabe no que deu."

Em Kazan, há dois anos, o Brasil ganhou prata com Nicholas, Etiene e Thiago Pereira e bronze com Fratus. Quatro medalhas. Nas águas abertas, Ana Marcela ganhou um ouro (25km), uma prata (por equipes, com Allan e Diogo Vilarinho) e um bronze (10km).

Nos saltos, só Cesar Castro foi à semifinal, no trampolim, terminando em 14º. Desta vez, a equipe não conta com nenhum dos veteranos (Cesar, Hugo Parisi ou Juliana Veloso). Tammy Galera (26 anos) e Ian Matos (28) são os mais experientes de um time que ainda tem Ingrid Oliveira, Giovana Pedroso (que, brigadas, não competirão na plataforma sincronizada), Luana Lira (trampolim) e Isaac Souza (plataforma).

"A gente não espera grandes resultados deles, apenas que eles deem o seu melhor. Acho difícil conseguirmos uma final, pelo pouco que conheço dos saltos ornamentais", admite Ricardo Prado. A competição começa nesta sexta-feira, às 6h (de Brasília) e segue até o dia 22.

A torcida também não deve esperar grandes resultados no nado sincronizado. Em um momento de transição de gerações, com muitas atletas parando, a CBDA optou por não levar o conjunto para o Mundial. Assim, o Brasil será representado só no dueto feminino, no solo e no dueto misto.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.