Topo

Olhar Olímpico

Entidades criam 'nota' para confederações, e patrocinadores cobram avanços

Demétrio Vecchioli

28/06/2017 05h00

Representantes do Instituto Ethos, COB, CPB, CBC e Atletas pelo Brasil, respectivamente, da esquerda para a direita.

Melhorar a performance esportiva, fazendo com o que o dinheiro investido pelo poder público e pelos patrocinadores chegue aos atletas. É esse o objetivo final do Rating das Entidades Esportivas, apresentado nesta terça-feira em São Paulo por comitês (COB, CPB e CBC), confederações esportivas (com a CBRu e a CBAt) e patrocinadores (entre eles Bradesco e Correios). Por trás do projeto estão o Instituto Ethos e a ONG Atletas pelo Brasil.

A ideia é que a primeira versão do rating, uma espécie de índice, seja divulgada em março do ano que vem. As entidades esportivas participarão de forma voluntária, inicialmente respondendo um questionário até outubro. Uma avaliação será feita no fim do ano a partir de parâmetros pré-definidos, que apontarão caminhos para as entidades. Ao final do processo, anualmente, esse rating será divulgado, com as confederações (e posteriormente os clubes) recebendo uma nota, que deve ser a partir de letras: A+, A, A-, B+….

"As próprias entidades vão poder planejar e medir como elas vão melhorar. E por que elas vão melhorar? Porque os patrocinadores vão cobrar, porque os atletas vão cobrar", explica Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, um dos cinco órgãos do Comitê Gestor do Pacto pelo Esporte, junto com Atletas pelo Brasil, Comitê Olímpico do Brasil (COB), Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) e Comitê Brasileiro de Clubes (CBC). "É uma escala que vai avaliar transparência, integridade, governança das entidades, segundo critérios e referências de vários lugares. Os critérios de avaliação serão referenciados num conjunto teórico e regulatório", completa.

O rating é uma complementação do Pacto, que por sua vez é um acordo voluntário firmado entre empresas patrocinadoras do esporte brasileiro que define regras e mecanismos nas relações de investidores com entidades esportivas. Em teoria, a partir do próximo mês de outubro, quando a assinatura do pacto completa dois anos, as entidades signatárias se comprometem a não mais patrocinar entidades que não cumpram determinadas exigências.

Desta vez, porém, são as entidades esportivas que se uniram para se autorregularem. A ideia partiu dos presidentes das confederações de desportos na neve (Stefano Arnhold) e rúgbi (Sami Arap Sobrinho, deixou o cargo em 2016), que levaram a proposta ao Comitê Gestor do Pacto pelo Esporte. Coube à consultoria Ernst & Young desenvolver a métrica e a plataforma, que será apresentada em outubro.

A expectativa é que pelo menos 30 das confederações olímpicas/paraolímpicas participem já no primeiro ano. "Quem não entrar agora, de repente pode entrar mais adiante, quando o patrocinador disser: 'Ano que vem quem não entrar acabou o contrato"', sonha Magri, embasado por discursos favoráveis de representantes de empresas como Correios e Bradesco.

A regulação, porém, chega em um momento traumático para as confederações, que perderam patrocínio depois de receberem níveis recordes de recursos no último ciclo olímpico. Não é segredo para ninguém que a ideia poderia ter sido colocada em prática antes. "Os recursos não foram utilizados a ponto de melhorar a performance dos atletas, isso é claro. Agora, essa mudança que começa do posicionamento das empresas é o que dá um cenário diferente para a gente", avalia o presidente do Ethos.

O problema é que muitas das principais patrocinadoras do esporte olímpico brasileiro não apareceram no evento de lançamento, o que gerou algum desconforto e até críticas públicas. "Ainda falta engajamento de empresas chave no processo", admite Magri, sem esconder o incômodo com a maior ausente: "A precisa ser mais protagonista".

A Caixa, que investe pesado no atletismo e na confederação paraolímpica, não é signatária do pacto. Dentre os cinco grandes bancos do país, é o único a ficar de fora, enquanto que Bradesco e Itaú são inclusive mantenedores (pagam as contas do pacto, que já passam de R$ 200 mil em 2017).

Das empresas estatais, aliás, só Correios (que sediaram o evento, em São Paulo) e Banco do Brasil estiveram presentes no lançamento. O Ministério do Esporte não enviou representantes, mas está alinhado com o Pacto. No segundo semestre, deverá organizar um evento conjunto para anunciar uma série de medidas alinhadas com o que cobram o Ethos e a Atletas pelo Brasil.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.