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#DossiêLegado: Plano de Legado Olímpico sugere outra Copa do Mundo no Brasil

Demétrio Vecchioli

14/06/2017 04h00

Esta matéria faz parte de uma série de reportagens do Olhar Olímpico sobre o legado dos Jogos do Rio. Nos próximos dias, novos documentos serão publicados.

A Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO) vai apresentar nesta quarta-feira, no Rio, com quatro anos de atraso, o tão esperado Plano de Legado das estruturas olímpicas. O Olhar Olímpico teve acesso ao calhamaço de 120 páginas, que, em sua maior parte, foi escrito por José Roberto Gnecco, professor da Universidade Estadual Paulista, a UNESP.

Por sugestão dele, o plano inclui a proposta de que o Brasil concorra a receber a Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2023, além da competição sub-20, que será realizada um ano antes, em 2022. Entre os eventos citados, aparece também a Universíade de 2023, ainda que Brasília tenha vencido a disputa para ser sede do evento universitário em 2019 e desistido por falta de apoio do governo federal.

"Existem eventos a serem captados cujo retorno é maior do que o esporte em si mesmo e que sua captação interessa ao Rio de Janeiro e ao Brasil para promoção da Cidade e do país, além do uso e ocupação do Parque Olímpico da Barra e demais instalações do legado esportivo. Trata-se de projetos desportivos que ampliam a visibilidade do Rio, do Brasil e dos brasileiros", explica o Plano de Legado, citando a Copa do Mundo Feminina como evento "estratégico".

A realidade do legado olímpico brasileiro, porém, é bem diferente. Planilha obtida pelo Olhar Olímpico mostra que apenas sete eventos esportivos estão confirmados para o Parque Olímpico do Barra até o fim do ano, dos quais quatros são torneios estaduais e um pan-americano. As outras duas são de modalidades não-olímpicas.

Calendário de utilização do Parque Olímpico da Barra. Próximo evento é um circuito amador de tênis de mesa

A Arena Carioca 1 terá um torneio de tênis de mesa em 8 e 9 de julho, o Gracie Jiu-Jítsu em 22 e 23 do mesmo mês, e uma competição júnior de badminton em outubro. As quadras externas do Centro Olímpico de Tênis receberão três competições amadoras em julho, agosto e outubro e o Velódromo será a casa da Copa Libertadores de Futebol em Cadeira de Rodas, modalidade que não é paraolímpica.

Criada com a missão de "tornar as instalações olímpicas do Rio de Janeiro em referência mundial para realizações de eventos e atividades esportivas, culturais, turísticas e de negócios", a AGLO conseguiu atrair, por enquanto, apenas um evento esportivo relevante para o Parque Olímpico da Barra: uma etapa do Circuito Mundial de Vôlei de Praia, disputada em maio. A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) pagou quase R$ 200 mil em aluguel, a partir de contrapartidas, mas só conseguiu vender pouco mais de mil ingressos, num fracasso de público.

A AGLO é responsável por oito arenas olímpicas, sendo quatro na Barra – Arena Carioca 1, Arena Carioca 2, Centro Olímpico de Tênis e Velódromo -, e outras quatro em Deodoro, onde a administração é do Exército: Centro de Tiro Esportivo, Arena da Juventude, Centro de Pentatlo Moderno e Centro de Hóquei sobre a Grama.

Com exceção do Centro de Tiro Esportivo, que foi construído para o Pan de 2007 e desde então é palco de grande parte dos treinamentos e competições da modalidade no Brasil, todas as demais estruturas estão ociosas. E, em Deodoro, a impressão é que continuará sendo assim. Por falta de acordo com o exército, a Confederação de Pentatlo Moderno já está montando um novo CT no Cefan, da Marinha, e não continuará utilizando o legado olímpico de Deodoro.

Pela mesma razão, o hóquei sobre a grama não utiliza mais seu CT em Deodoro desde a Olimpíada, tendo migrado treinamentos e competições para a UFRJ. Já a Arena da Juventude, de acordo com a própria AGLO, "necessita de ajustes na sua estrutura". Desde a Olimpíada, ela recebeu apenas um evento local de judô.

A enorme maioria das sugestões de Gnecco não foram tiradas do papel. Hoje, o que a AGLO tem são "acordos de cooperação" com os comitês olímpico (COB), paraolímpico (CPB) e o de clubes (CBC). Mas esses acordos são, na verdade, protocolos de intenção. Os mesmos acordos devem ser assinados com as confederações universitária (CBDU) e escolar (CBDE) e também com a UFRJ.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.