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Olhar Olímpico

Escândalo de doping brasileiro vai parar na Polícia Civil e farmácia é investigada

Demétrio Vecchioli

13/06/2017 04h00

As mais de 250 páginas de um dossiê produzido pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) sobre a venda e comercialização de substâncias dopantes estão há mais de um ano em posse da Polícia Civil de São Paulo. O processo corre com o número 111/2016 na 2ª Delegacia de Crimes contra a Saúde Pública e ainda muito pouco avançou. Nos autos não consta, por exemplo, que o médico Julio César Alves, principal denunciado, tenha sido ouvido.

A existência desse dossiê, que tem sido revelado em detalhes pelo jornal O Estado de S. Paulo, havia sido revelado em junho do ano passado pela Folha. Na época, a repórter Camila Mattoso foi a nove farmácias em São Paulo e conseguiu comprar o hormônio sintético em uma delas, a Sare Drogarias, na rua do Oratório, no Alto da Mooca, que fazia propaganda do hormônio pela internet.

De fato, a Sare é citada por pelo menos um dos atletas ouvidas pela ABCD, assim como uma farmácia de Piracicaba recomendada pelo médico Julio César Alves. Os investigadores da Polícia Civil estiveram na Sare e de fato encontraram lá um remédio que tem EPO em sua fórmula, o Hemax Eritron, que só pode ser vendido sob prescrição médica.

A farmácia, porém, não apresentou a documentação da venda da droga para o ciclista Alex Arseno, que afirmou à ABCD que comprou lá o medicamento. Ele foi banido do esporte no fim de 2015, após ser flagrado em exame antidoping pela segunda vez.

Arseno é um dos atletas que foram ouvidos pelo então presidente da ABCD, Marco Aurélio Klein, e pelo seu braço-direito, o português Luis Horta, especialista em controle de dopagem. Ambos estão entre os entrevistados do documentário exibido pela televisão alemã no sábado sobre o doping no Brasil. Todos os atletas que aparecem no documentário também colaboraram com o dossiê.

A declaração de Eliane Pereira sobre ter encontrado o ex-lateral Roberto Carlos no consultório de Julio César em Piracicaba foi dada a Klein e Horta e consta não apenas no dossiê, mas também no inquérito da polícia. Ela foi flagrada por EPO pela primeira vez em 2002, quando tinha apenas 19 anos, e foi em junho daquele ano que ela relata ter encontrado Roberto Carlos. Depois, ela voltou a ser flagrada em 2014, e por isso participou da investigação.

Diversos dos atletas que colaboraram com o dossiê relatam que ouviram Julio Cesar se gabar de que trata diversos atletas de alto rendimento, inclusive da seleção brasileira de futebol. Ao mesmo tempo, muitos afirmam que chegaram até o médico procurando sobre doping na internet. E Julio Cesar só ganhou o noticiário, em 2002 e 2013, por afirmar exatamente que tratava atletas olímpicos e da seleção. Ou seja: o médico tinha interesse na fama.

Como conta o Olhar Olímpico, o médico foi denunciado ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo em 2002 e só em 2011 recebeu uma advertência. Agora, está novamente sendo investigado. O Cremesp e o Ministério Público alegaram que o caso corre em segredo e, por isso, não iriam tecer comentários. A situação é a mesma da ABCD e da Polícia Civil, que negaram ao Olhar Olímpico acesso ao dossiê.

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Se você souber alguma informação sobre o escândalo de doping no Brasil, entre em contato com o blog pelo e-mail demetrio.prado@gmail.com. Seu nome será mantido em sigilo. 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.