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Olhar Olímpico

ABCD nega pressão do COB para evitar testes antidoping antes da Olimpíada

Demétrio Vecchioli

10/06/2017 15h16

Presidente da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), o ex-judoca Rogério Sampaio negou neste sábado as denúncias feitas em um documentário do canal de TV alemão ARD, o mesmo que denunciou o esquema de doping russo. "Nunca recebei pressão do COB (Comitê Olímpico do Brasil). O COB nunca me ligou para tratar de nada que dissesse respeito a antidoping. Nunca me ligou pra nada, aliás, ainda mais para isso", garantiu ao Olhar Olímpico.

Sampaio está à frente da ABCD desde o dia 1.º de julho de 2016, em substituição a Marco Aurélio Klein, uma das fontes do documentário. Outra das fontes é o especialista antidoping português Luis Horta, que trabalhou na ABCD até poucos dias antes de Rogério Sampaio assumir – ele não teve o contrato renovado.

"Antes dos Jogos Olímpicos, estávamos sob pressão do COB para não realizar testes de doping sem aviso prévio", disse Horta ao documentário. "Eu percebi que eles não têm o mesmo objetivo. Eles querem medalhas, medalhas, medalhas. Limpas ou não", continuou. O Olhar Olímpico ainda não conseguiu contato com ele e o COB não quis comentar o documentário.

Horta já havia feito a mesma denúncia na véspera do início dos Jogos do Rio, em agosto do ano passado, em entrevista ao jornal Lance!. À época, ele acusou nominalmente o então diretor-executivo do COB, Marcus Vinicius Freire, que negou todas as acusações. Dias antes, Freire havia reclamado do fato de a ABCD testar repetidas vezes o mesmo atleta num curto espaço de tempo, atrapalhando a preparação.

Em 24 de junho do ano passado, o Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD) foi declarado pela Agência Mundial Antidoping (Wada) em não-conformidade com o código mundial. Até voltar a funcionar, em 21 de julho, ele não poderia receber exames. Sem ter para onde enviar eventuais testes, a LBCD parou de testar os atletas brasileiros que iriam à Olimpíada.

"Como o laboratório do Rio ficou em não-conformidade, a gente teria que enviar para um laboratório do exterior. Para isso, tinha que fazer um processo licitatório, que levaria de 90 a 120 dias. Não havia tempo hábil", alega Rogério Sampaio. Três dias depois de o LBCD ser novamente declarado "em conformidade", ele passou a ser de uso exclusivo do COI, que, em 24 de junho, começou a testar ele mesmo os atletas envolvidos na Olimpíada, de todos os países.

Ainda assim, Rogério Sampaio alega que a delegação brasileira disputou a Olimpíada do Rio limpa. "Acho que foi muito bom o controle que foi feito na delegação brasileira no período que antecedeu os Jogos Olímpicos. A gente fez 2.800 testes durante seis, sete, oito meses.  Não teve nenhum atleta brasileiro que foi pego no doping durante a Olimpíada", comentou. Na verdade, o ciclista Kleber Ramos foi desclassificado depois de ser flagrado em exame antidoping colhido uma semana antes do início dos Jogos. "A delegação brasileira teve mais de 500 atletas. Acredito que o controle foi excepcional", opinou.

Após os Jogos, ele admite, a ABCD fez menos testes. "Um grande percentual foi cumprido antes dos Jogos Olímpicos, pensando neste evento. Passada a Olimpíada, você dá início a um novo ciclo", explicou, lembrando que, entre 20 de novembro de 2016 e 12 de abril de 2017, a ABCD foi declarada em não-conformidade, porque demorou a instituir um tribunal único. Nesse período, não pôde realizar testes. "Desde 12 de abril, já fizemos 600, 700 testes", contou.

O presidente da ABCD afirmou ainda que não há motivos para fazer novas investigações ou corrigir procedimentos depois da denúncia do documentário alemão. "O médico (Julio César Alves) já deu algumas entrevistas sobre isso, mas nenhum atleta dele foi pego no controle. O caso dele já está sendo investigado pela Justiça", explicou. No documentário, o médico disse, supostamente sem saber que estava sendo gravado, que seus produtos dopantes abastecem diversos atletas, citando inclusive o ex-lateral Roberto Carlos. Em um documentário da ESPN Brasil de 2013, ele já havia dito o mesmo, sem citar nomes. À época, falou em 25 atletas olímpicos e dois jogadores da seleção brasileira de futebol.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.