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Olhar Olímpico

Para vender mais ingressos, COI banaliza medalha olímpica em provas mistas

Demétrio Vecchioli

09/06/2017 16h58

Bolt participou de competição mista na Austrália

O Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou nesta sexta-feira o tão esperado programa dos Jogos Olímpicos de Tóquio, com a inclusão de apenas duas disciplinas: BMX Freestyle e Basquete 3×3. Conforme esperado, o COI demonstrou louvável esforço em se aproximar da equiparação do número de provas masculinas e femininas e também na representatividade de cada um dos gêneros. Ao mesmo tempo, porém, adicionou uma dezena de provas que não trarão nenhum benefício ao movimento olímpico.

No atletismo, por exemplo, foi adicionado o revezamento 4x400m medley. Ou seja: os mesmos atletas que vão brigar por medalhas nos 400m rasos e no revezamento 4x400m masculino e no 4×400 feminino agora também terão a oportunidade de ir ao pódio nesta nova prova. O programa ganha mais uma disputa por medalha e não agrega nada novo ao atletismo. A novidade não aumentará o número de crianças praticando esportes nem incluirá nos Jogos Olímpicos atletas hoje alijados. Muito melhor seria aceitar a marcha atlética 50km feminina, única prova do atletismo que só existe para os homens.

Em três modalidades foram incluídas provas mistas que, da mesma forma, não atraem nada novo ao esporte a não ser um aumento no número de ingressos vendidos – algo que só interessa ao COI e ao comitê organizador. A competição mista por equipes de judô, por exemplo, só serve para ampliar o programa em um dia, sem ampliar o número de vagas na Olimpíada. O mesmo vale para o triatlo e para o tiro com arco. Nesta última modalidade, um mesmo atleta do arco recurvo poderá ganhar três medalhas. Enquanto isso, os competidores do arco composto disputam Mundial, Circuito Mundial, Campeonato Brasileiro, etc, mas seguem excluídos do movimento olímpico.

No tênis de mesa, o cenário é ainda pior, porque o COI incluiu no programa olímpico uma competição que não existe no Circuito Mundial e em boa parte das competições nacionais. Ninguém se prepara para jogar duplas mistas no tênis de mesa, ninguém treina para isso. A solução de fato equipara o programa do tênis de mesa ao do badminton (esporte em que todos os eventos têm competições de duplas mistas, inclusive no circuito mundial) e ao do tênis, que só vê disputa de duplas mistas formadas por atletas de um mesmo país nos Jogos Olímpicos.

Em todos esses casos, a medalha olímpica (e o chamado espírito olímpico) não irá chegar a atletas anteriormente excluídos, a regiões novas, ou a novos fãs. Pelo contrário: só vai multiplicar o número de medalhas que um mesmo atleta pode ganhar. Ou alguém acha que, se o tal revezamento 4x100m medley da natação existisse desde 2004, Michael Phelps não teria três medalhas a mais no currículo?

Feitas essas críticas, vale ressaltar o trabalho do COI para, a cada ciclo olímpico, reduzir a diferença da representatividade masculina e feminina. Nesta sexta, a comitê anunciou que o boxe masculino perdeu duas categorias (de dez para oito), com o feminino passando de três para cinco. No levantamento de peso, serão sete provas de cada gênero (no Rio, foram oito masculinas contra seis femininas).

Canoagem, tiro esportivo e remo já haviam apresentado planos para equiparar o número de provas e, conforme esperado, essas propostas foram aceitas. Nos três casos, o número total de provas foi mantido, com a substituição de disputas masculinas por competições femininas.

Houve ainda alterações no ciclismo de pista (volta das provas de Madison, tradicionais na modalidade) e na esgrima (agora todas as armas terão provas por equipes, e não mais só duas delas). Na natação, foram incluídas as provas de 800m livre para homens e 1.500m para mulheres, que já existem em Mundiais. Por outro lado, foram recusadas as provas de 50m borboleta, 50m costas e 50m peito.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.