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Olhar Olímpico

Vivi Jungblut, a fã de 20 anos que quebrou a dinastia de Poliana e Ana Marcela

Demétrio Vecchioli

08/06/2017 04h00

Poliana, Vivi e Ana Marcela (Satiro Sodré/SSPress)

Há onze anos a maratona aquática brasileira não via surgir uma nadadora tão promissora. Afinal, há onze anos, período em que foram realizados oito Mundiais, três Jogos Pan-Americanos e três Olimpíadas, duas atletas sempre foram muito superior que as demais: Poliana Okimoto e Ana Marcela Cunha. A hegemonia enfim foi quebrada, por uma gaúcha que no fim do mês completará 21 anos de vida: Viviane Eichelberger Jungblut, ou simplesmente Vivi.

O feito aconteceu no mês passado, quando, pela primeira vez na carreira, Vivi, do Grêmio Náutico União, conseguiu nadar lado a lado com Poliana e Ana Marcela, na seletiva para o Mundial de Budapeste, disputada em Foz do Iguaçu. A decisão foi na batida de braço, com Ana em primeiro, Vivi em segundo, Poliana em terceiro. Como só havia duas vagas, a atual medalhista de bronze olímpica ficou fora do Mundial, algo que não acontecia desde 2004, na segunda edição do evento.

As duas referências da maratona aquática no Brasil são, como não poderia deixar de ser, os espelhos de Viviane. "Na primeira oportunidade de participar de um campeonato absoluto, eu pedi autógrafo delas em uma camiseta que eu tenho guardada até hoje", lembra. "Sempre fui muito fã e é muito legal saber que consegui chegar muito perto".

Até muito pouco tempo atrás, Poliana e Ana Marcela pareciam imbatíveis. Tanto que virou costume que, quando só uma delas se inscreve para uma competição nacional, a largada feminina aconteça junto da masculina para haver alguma competitividade. As outras meninas sempre ficaram muito atrás.

Antes da seletiva para o Mundial, a última vez que Poliana e Vivi haviam se inscrito na mesma prova fora uma etapa do Campeonato Brasileiro no Guarujá, no litoral de São Paulo, no fim do ano passado. Poliana competiu contra os homens, chegando em quarto no geral, com quatro minutos de folga sobre Vivi.

Por isso, o resultado em Foz do Iguaçu surpreendeu até a garota, que havia feito o polimento (preparação física específica) para o Troféu Maria Lenk de natação, uma semana antes. "Eu fui nadar para ganhar delas, mas sabia que ia ser uma disputa difícil. Na verdade, eu não esperava ganhar da Poliana, pegar a vaga nos 10km. Talvez nos 5km seria um pouco mais provável, mas não nos 10km." Poliana depois nem apareceu para nadar a distância mais curta, dois dias depois, e Vivi acabou a seletiva em terceiro, atrás da companheira de clube Betina Lorscheister. Ana Marcela ganhou de novo.

Nos últimos anos foi Betina quem, de muito longe, fez sobra a Poliana e Ana Marcela, sem nunca de fato ameaça-las. Vivi só foi surgir na elite no ano passado. Ela começou na maratona aquática em 2012, disputou o Sul-Americano Juvenil em 2013 e ganhou o bronze no revezamento no Mundial Júnior de 2014.

Foi depois desta conquista que ela passou a treinar com Kiko Klaser, o treinador que vem desenvolvendo ótimo trabalho no GNU, a ponto de classificar três de seus atletas entre os cinco que vão representar o Brasil no Mundial. Fernando Ponte herdou o espaço de Samuel de Bona (outra cria do GNU, que se aposentou recentemente) e fará companhia a Allan do Carmo.

No caso de Vivi, o sucesso não é só nas águas abertas. No ano passado, ela quebrou o recorde brasileiro nos 400m e nos 800m em piscina curta. No Troféu Maria Lenk, este ano, ganhou os 800m e os 1.500m, sempre se aproximando muito do recorde nacional. Nos 400m, só foi superada por Joanna Maranhão.

"Queria baixar meus tempos e estava treinando bastante para isso. Foi um pouco melhor do que o esperado, é verdade", admite Vivi, que ainda não quer priorizar a piscina ou as águas abertas. No Mundial, ela até poderia nadar os 400m livre, porque tem índice B, mas não vai requerer a vaga – teria que ficar mais uma semana em Budapeste e a CBDA está sem dinheiro.

No caso das provas de fundo, também desde o surgimento de Joanna Maranhão (em 2004), de Poliana (2003) e Ana Marcela (2006), não aparecia alguém tão promissora quanto Viviane. Para tornar mais difícil a rotina, ela ainda tem que conciliar os duros treinos (de até 18km por dia) com as aulas do curso de Engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

"É difícil conciliar as duas coisas aqui no Brasil: universidade com esporte. Só a Unisanta (clube de Poliana e Ana Marcela) faz esse papel duplo, mas eu tento fazer as duas coisas. Quando tem uma competição, dou prioridade para a natação, mas sem deixar de estudar. Talvez alguns semestre diminua o numero de cadeiras, mas acho importante continuar estudando", diz Vivi, que preferiu continuar em Porto Alegre apesar da natural procura de clubes com maior poderio financeiro no fim da temporada passada.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.