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Olhar Olímpico

Novo presidente pegará CBDA sem dívidas, mas com situação 'difícil', diz interventor

Demétrio Vecchioli

08/06/2017 15h00

Coaracy Nunes (Satiro Sodré/SSPress)

Após quase 30 anos, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) vai eleger neste sábado um presidente que não é Coaracy Nunes, preso em Bangu 8 com mais três de seus principais auxiliares. O eleito assumirá o cargo imediatamente, encerrando uma gestão de 2 meses e meio do interventor Gustavo Licks, nomeado pela Justiça depois que o último mandato de Coaracy venceu e as eleições foram adiadas, também por decisão judicial.

"Eu acho que nossa missão está sendo cumprida", diz o contador, especialista em recuperação judicial, ainda que seu papel costume ser o de fiscalizador, não de executor.  "Acho estamos conseguindo fazer uma transição transparente e democrática. Abrimos a eleição para outras chapas, teremos três chapas, os candidatos discursam para os potenciais eleitores. Acho que dentro do que me foi solicitado a gente conseguiu atender", opina.

A eleição convocada por Licks vai acontecer na tarde de amanhã (sexta), no Rio, e o eleito assumirá a CBDA de forma imediata. De acordo com o interventor, o vencedor vai encontrar uma confederação sem dívidas. "Não temos nenhum empréstimo bancário, por exemplo. Com relação a isso, está tudo ok", afirma.

Mas isso não significa que o cenário seja confortável, pelo contrário. "É um cenário difícil, muito difícil. Primeiro pelas circunstâncias naturais, que todas as demais confederações também sofrem. Além disso, houve um planejamento tardio, que não foi feito da melhor forma lá em 2016. Eu não vivi isso, mas pode também ter tido origem na crise econômica. O censo comum diz que pode ter alguma reação", comenta Licks, sempre evitando culpar a gestão de Coaracy e, por isso, falando no condicional.

Os problemas, afinal, são originários de diversos fatores, entre eles, obviamente, a antiga gestão da confederação. Um dos principais é o acesso a recursos públicos, uma vez que a CBDA tem encontrado muita dificuldade em prestar contas do que gastou. E isso está atrelado, principalmente, à investigação que colocou Coaracy na cadeia. A empresa fornecedora de viagens à CBDA, a Proxy, está entre as investigadas e teve seus computadores levados pela Polícia Federal.

"A gente consegue liberar dinheiro, aí bloqueia de novo, aí a gente consegue atender as exigências e liberar de novo, aí passa um dia e bloqueia de novo, e assim sucessivamente.  Todos os dias surge algo novo e todo dia é sanada alguma coisa nova. Grande parte disso é decorrente de passagens aéreas. Até mesmo porque a pessoa que poderia ajudar também foi fichada", lamenta Licks.

Por força de mudanças na legislação que rege os convênios, a CBDA foi obrigada a devolver todos os recursos que já haviam sido disponibilizados pelo Ministério do Esporte e que estavam em conta corrente específica. Sem os valores contingenciados para o polo aquático em 2017, a CBDA teve que recorrer à sua poupança, que, em 31 de dezembro de 2016, tinha cerca de R$ 2,3 milhões.

Como ficou sem patrocínio dos Correios entre 31 de outubro de 2016 e 31 de janeiro de 2017 (quatro meses, portanto), essas economias também precisaram ser utilizadas para suprir o buraco financeiro aberto. Além disso, sem um planejamento específico para 2017, o interventor precisou utilizar recursos dessa poupança para pagar eventos que não estavam descritos nem no planejamento apresentado ao COB (Lei Piva), nem aos Correios.

Pelo que o Olhar Olímpico apurou, essa poupança, em menos de seis meses, foi reduzida de R$ 2,3 milhões para menos de R$ 1 milhão. Atualmente ela é abastecida por só um recurso: os R$ 233 mil que a Globosat paga mensalmente a título de patrocínio. Os R$ 475 mil mensais dos Correios já chegam carimbados e só podem ser utilizados para fins pre-determinados em contrato.

O acordo com os Correios, reduzido em 75% na última renovação, é válido até 31 de janeiro de 2018, mas ainda pode ser rompido. A estatal chegou a anunciar esse rompimento quando Coaracy foi preso, por dano à sua imagem, mas voltou atrás e adiou a decisão, cobrando que o interventor apresentasse um plano de trabalho. Esse plano foi apresentado há quase dois meses, mas até agora os Correios não responderam se continuarão com o patrocínio – ainda que neguem, a decisão parece ter a ver com a escolha do próximo presidente.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.