Clubes não aceitam calendário e podem abandonar Superliga ainda este ano
Nunca foi tão grande a possibilidade de o próximo campeonato brasileiro masculino de vôlei ser organizado por uma liga de clubes e não mais pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). A Associação de Clubes de Vôlei (ACV) já tem toda a documentação pronta e há dois anos é uma carta na manga dos dirigentes dos clubes, que desta vez parecem dispostos a utilizá-la para "trucar" a CBV.
A insatisfação é por conta do calendário da Superliga Masculina 2017/2018 apresentado aos clubes pela CBV. Havia um acerto prévio de que a próxima edição do torneio teria final em melhor de três e se estenderia até o começo de maio. Mas, na última reunião, a CBV apresentou a proposta de mais uma vez a final acontecer em jogo único, no dia 8 de abril.
A partir do que havia sido inicialmente acertado, os clubes contrataram atletas até o dia 30 de maio e não querem pagar quase dois meses de salários para os jogadores ficarem em casa. "Todo mundo contratou para ter pelo menos sete meses de calendário. Dessa forma, dá cinco meses e duas semanas", reclama Ricardo Navajas, do vice-campeão brasileiro Funvic/Taubaté.
As desavenças começam na data de início da Superliga. A CBV sugeriu 14 de outubro, mas os clubes querem que seja no início do mês. Eles também cobram que as quartas de final e a semifinal tenham melhor de cinco jogos (a CBV quer manter três) e a final em três partidas até 8 de maio. "O Campeonato Polonês e o Campeonato Italiano vão acabar em 8 de maio, não tem por que não ser assim no Brasil", argumenta Alexandre Pflug, do Sesi-SP.
A Superliga terminando em abril para aumentar o tempo de preparação da seleção para Mundiais e Olimpíadas não é novidade em anos pares como 2018, mas os clubes agora se sentem mais poderosos para reclamar mais espaço no calendário. "Os clubes precisam transformar em receita as propriedades comerciais. Fazer igual no basquete. Os custos dos clubes aumentaram e as receitas precisam acompanhar. Em nível técnico nós temos a melhor Superliga do mundo", opina Vittorio Medioli, presidente do Sada/Cruzeiro, atual pentacampeão nacional.
É o Sada quem lidera o movimento dos clubes, composto atualmente por oito equipes. Só Minas Tênis Clube e Campinas (clube que perdeu seu patrocinador, a Brasil Kirin) não apoiam as reclamações, enquanto o Sesc-Rio, recém-promovido, está ouvindo as duas partes.
"A ACV está bastante forte. Não sei se vai realizar a próxima edição da liga, isso ainda vai depender da negociação. Se a CBV melhorar a oferta, a gente talvez não rache. Mas talvez a gente rache e passe a gerir a liga. Qualquer coisa que for imposta a gente pode derrubar ou aceitar, porque somos a maioria.", opina o campeão olímpico Gustavo Endres, que toca o projeto do Lebes/Gedore/Canoas.
Ele é um dos líderes do grupo, junto com o Sesi e, principalmente, o Sada, que é quem há tempos defende que os clubes tomem conta do campeonato brasileiro. "Já tenho a minuta de estruturação da nova liga. Se não for esse ano, vai ser no próximo", avisa Medioli.
Em nota, a CBV alegou que o calendário internacional da próxima temporada foi antecipado por causa da Copa do Mundo de futebol e que isso "tornou necessário" também antecipar o calendário brasileiro. A entidade promete conversar com os clubes, mas diz não abrir mão de organizar a Superliga.
"A CBV mantém sua posição de estar sempre aberta ao diálogo com os clubes e busca continuamente a melhor solução no interesse do voleibol brasileiro. A CBV tem a obrigação de organizar e promover a Superliga, nos gêneros feminino e masculino, e não abre mão desta missão em prol da competição e do esporte", afirmou a CBV, em nota, ao blog.
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