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Olhar Olímpico

Mulheres reclamam de preconceito na reabertura do Velódromo Olímpico

Demétrio Vecchioli

29/05/2017 16h13

Atletas protestam no Velódromo

A reinauguração do Velódromo Olímpico, no Rio, no fim de semana, foi marcada por atrasos e falhas de organização, além do público muito abaixo do esperado. Umas das provas, de Omnium, não foi completada e as sete competidoras ficaram pelo menos 10 horas sem se alimentar, aquecendo, à espera da boa vontade dos organizadores de pararem de adiar a largada da terceira das quatro etapas, o que nunca aconteceu.

O Omnium é a prova combinada do ciclismo, disputada em quatro etapas (velocidade, eliminação, resistência e pontos). A previsão era de que, tanto no masculino quanto no feminino, as duas últimas entrassem na grade do SporTV, que transmitiu o evento das 11h às 14h de domingo. Os melhores ciclistas do país estavam presentes.

Após a realização das duas primeiras etapas, porém, a prova de resistência não foi chamada como combinado.  "Tinha poucas meninas competindo, só sete. De fato não fica uma prova emocionante para a tevê, mas estava na programação", reclama Camila Coelho, umas competidoras. Mesmo quando a transmissão chegou ao fim, elas não foram chamadas a voltar à pista, com outras provas passando à frente na programação.

Depois de mais de uma hora de atraso, Camila foi questionar a organização que teria afirmado que antecipou outras provas porque os ciclistas tinham voo marcado. Mas a largada que deveria acontecer às 13h não foi chamada até 18h, quando as sete competidoras decidiram abandonar a competição.

Só aí é que elas foram se alimentar. Na expectativa de que a largada fosse convocada para qualquer momento, elas estavam sem comer desde o café da manhã, por volta das 9h. Foram 10 horas sem ingerir nada além de um gel "engana-fome". Entre as prejudicadas, Wellyda Santos, campeã pan-americana sub-23.

Ainda na noite de domingo, elas recorram às redes sociais para reclamar da organização. Na opinião das corredoras, existe preconceito contra o ciclismo feminino. "A gente falou que não ia mais participar e eles: 'Tudo bem'", reclama Camila. "O feminino não vale, não é importante."

Ana Polegatch, da seleção brasileira de ciclismo de estrada, é outra que reclama de misoginia.  "Teve discriminação com a prova feminina. Não quiseram passar na TV porque ia ficar feio ser poucas meninas. Eles tinham pelo menos que avisar. Se ao menos mudassem e dessem a nova programação, tudo bem, mas nem isso", reclama.

"A maioria das provas é cortada pela metade, por falta de meninas. A gente nunca sai da cronometragem da prova, sempre é menor. A gente sofre com isso faz muito tempo. A gente está cansada. Não dá mais para aguentar isso", protesta Polegatch.

O blog procurou a Federação de Ciclismo do Rio, que organizou a competição, mas a assessoria de imprensa alegou que só poderia responder às críticas quando conseguisse contato com Adegmar Pereira, o Preto, que na prática foi quem fez o evento funcionar. O blog também não conseguiu contacta-lo por telefone nesta segunda-feira.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.