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Olhar Olímpico

COB gastou R$ 3 milhões só com alimentação durante a Olimpíada

Demétrio Vecchioli

26/05/2017 04h00

A auditoria das demonstrações financeiras de 2016 do Comitê Olímpico do Brasil (COB) mostra que o comitê gastou quase R$ 3 milhões apenas com alimentação durante os Jogos Olímpicos do Rio. Além disso, os custos com serviços terceirizados e auditorias chegou a R$ 15 milhões, ante R$ 11 milhões no ano anterior. O relatório ainda mostra que pelo menos metade das verbas de patrocínio foram revertidas em serviços, incluindo aí R$ 5 milhões em publicidade.

O Olhar Olímpico esmiuçou as 42 páginas do relatório e já contou que a dívida do Comitê Rio-2016 com o COB ao fim de 2016 ainda era de R$ 23 milhões. O valor é devido como compensação pelo fato de o comitê olímpico do país organizador dos Jogos Olímpicos não poder firmar acordos de patrocínio com concorrentes das empresas que patrocinam a Olimpíada. Nas duas demonstrações financeiras, o COB já considera esses R$ 23 milhões como "provisão para perdas". Ou seja: risco de calote.

Essa dívida é um dos cinco dados mais relevantes do relatório, considerando apenas os gastos a partir de verbas próprias do COB (sem considerar os recursos da Lei Agnelo/Piva). Os demais o blog apresenta abaixo.

Patrocínios – No fim de 2015, a dívida do Rio-2016 com o COB era de R$ 56,592 milhões. Em 31 de dezembro de 2016, esse valor havia caído para R$ 23 milhões. Isso não significa, porém, que a diferença tenha entrado nos cofres do COB. Boa parte desses recursos, cerca de metade deles, foi repassada ao COB por meio de serviços ou produtos, num mecanismo conhecido pela sigla VIK.

Nem todos esses valores são detalhados no relatório, mas lá aparece que R$ 4,2 milhões foram revertidos em alugueis de carros da Nissan, patrocinadora dos Jogos. Da Embratel, o COB recebeu R$ 1,8 milhão em "manutenção de data center e softwares". A Nike forneceu o equivalente R$ 5,6 milhões em produtos, sendo que parte desses uniformes está estocado para eventos de 2017 e 2018.

Além disso, um total de R$ 5,0 milhões foram revertidos em publicidade. De acordo com o COB, todo o valor foi arcado através do contrato de permuta (VIK) com os patrocinadores de mídia dos Jogos Olímpicos Rio-2016. Ou seja: permuta com o Grupo Globo.

Alimentação – Apesar de ter disputado os Jogos Olímpicos do Rio com 465 atletas, contra 600 dos Jogos Pan-Americanos de Toronto, o COB teve o dobro de gastos com alimentação em 2016 na comparação com o ano anterior. Em 2015, a contabilidade apresentou um gasto de R$ 1,3 milhão nessa modalidade, contra R$ 2,994 milhões em 2016. O valor é o dobro do que o gasto em 2012, com os Jogos Olímpicos de Londres.

Questionado sobre essa comparação, o COB explicou "teve que assumir uma demanda fora do comum na fase Pré-Jogos e Jogos, sobretudo para custear a alimentação de atletas e profissionais das comissões técnicas que ficaram fora da Vila Olímpica", ressaltando que a missão brasileira no Rio-2016 foi composta por cerca de mil pessoas.

Consultorias – Outro aumento expressivo foi no item "serviços de terceiros e consultoria". Se em 2015 o COB gastou R$ 11,5 milhões com esse tipo de serviço, em 2016 o valor chegou a R$ 15 milhões. As demonstrações financeiras auditadas, porém, não explicam como o recurso foi utilizado, nem quais as empresas contratadas.

Ao blog, o COB disse que "o aumento se deu devido à demanda fora do comum para atender todas as necessidades da delegação brasileira", citando: montagem de estrutura dentro da Vila Olímpica para atendimento aos atletas; consultoria de treinadores e profissionais estrangeiros, consultoria de coaching para atletas, contratação de estrutura de pessoal e logística para as bases de treinamento e hospedagem fora da Vila Olímpica; desenvolvimento de aplicativo para a Missão; marketing; construção do Espaço Time Brasil; e montagem do Espaço Family and Friends.

Poupança – Depois de realizar uma Olimpíada em casa, o COB não tem do que reclamar de sua saúde financeira. Sem dívidas bancárias, o comitê olímpico brasileiro fechou 2016 com R$ 78,2 milhões em caixa, sendo R$ 68,8 milhões em cadernetas de poupança. O valor, entretanto, é expressivamente menor do que há um ano, quando o COB encerrou 2015 com R$ 126,7 milhões guardados, sendo R$ 106,3 milhões na poupança.

Em nota, o COB explicou que fazia parte dos planos recorrer em 2016 ao dinheiro guardado ao longo do ciclo olímpico. "O COB realiza sua gestão financeira levando em consideração o Ciclo Olímpico de quatro anos, no qual os dois primeiros anos do ciclo temos poucas competições a nível internacional de relevância e os dois últimos anos do ciclo possuem as principais competições. Desse modo, buscamos fazer uma reserva financeira nos dois ou três primeiros anos do ciclo a fim de evitar que faltem recursos para o ano dos Jogos Olímpicos", explicou o comitê, ressaltando ainda que, em 2016, devido à mudança na legislação, o repasse da Lei Agnelo/Piva foi 15% menor.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.