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Olhar Olímpico

Calote do Comitê Rio-2016 pode fazer COB perder mais de R$ 20 milhões

Demétrio Vecchioli

23/05/2017 12h45

Devendo cerca de R$ 117 milhões, o Comitê Organizador dos Jogos Rio-2016 já não consegue mais honrar seus compromissos nem com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), com quem divide o mesmo presidente: Carlos Arthur Nuzman. Das cinco parcelas que o Rio-2016 já deveria ter pago ao COB em 2017, só uma foi quitada- e com três meses de atraso, em março. O próprio COB admite que pode levar um calote de mais de R$ 20 milhões.

O Olhar Olímpico teve acesso ao relatório financeiro do COB de 2016, que aponta que em 31 de dezembro de 2016 a dívida do Rio-2016 com o comitê brasileiro era de R$ 23,058 milhões. O valor, porém, não bate com o apresentado no relatório financeiro do Rio-2016, ao qual o UOL também teve acesso: R$ 24,063 milhões. A conta agora é um pouco menor porque uma das sete parcelas que deveria ser paga em 2017 foi quitada. Ainda assim, incide correção monetária.

O relatório do COB, auditado pela Lopes, Machado, já coloca os R$ 23 milhões como provisão de perdas – ou seja: admite o risco de calote. Ali, aparece explicado que, "em função do não cumprimento dos pagamentos das três primeiras parcelas por parte do Rio-2016 foi efetuada provisão para perdas". E o presidente do COB nem pode reclamar com o do Rio-2016 – eles são a mesma pessoa, afinal.

Em 2015, conforme já contou o Blog do Rodrigo Mattos, o Rio-2016 reduziu o repasse de patrocínio ao COB. Historicamente, em todos os Jogos, o comitê organizador repassa um montante ao comitê olímpico nacional como uma forma de recompensar este por não poder firmar acordos com empresas concorrentes das patrocinadoras dos Jogos.

Pelo acordo inicial, seria repassado pelo Rio-2016 12% de todos os valores obtidos com patrocínio na Olimpíada, até um total de R$ 120 milhões, valor corrigido anualmente pela inflação a partir de 2009. Depois disso, o COB ficaria com 8% do excedente. Só que, em 2015, as duas partes refizeram a negociação, que colocou R$ 120 milhões como teto, sempre com correção. Com isso, o COB se viu obrigado a registrar um prejuízo de R$ 41 milhões. Ainda assim, no final de 2015, a dívida era de R$ 56,592 milhões, com o COB registrando, por isso, uma perda de R$ 41 milhões.

Mas, durante o ano de 2016, o COI pagou apenas parte dessa dívida, e sempre em repasses de serviços e produtos (modalidade conhecida pela sigla VIK). O saldo remanescente em 31 de dezembro de 2016, de R$ 23,058 milhões, deveria ser pago em dinheiro em sete parcelas mensais a partir de janeiro passado. Mas o Rio-2016 confirmou ao blog que só uma delas foi quitada, em março. E não há precisão para quando outro pagamento poderá sair.

Isso vem gerando um descontentamento por parte do COB, que precisa do dinheiro para funcionar num momento de saída de patrocinadores. Uma reunião foi marcada para a semana que vem, quando o Rio-2016 vai apresentar uma proposta de pagar parte dessa dívida (até R$ 5 milhões) em VIK. Em nota, o COB disse apenas que o comitê e o Rio-2016 "estão buscando uma forma para quitar a dívida, e tão logo ela seja efetivada será comunicada à imprensa".

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.