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Olhar Olímpico

Ex-governador preso criou Bolsa Atleta e se envolveu em escândalos no Esporte

Demétrio Vecchioli

23/05/2017 17h28

Rodrigo Rollemberg (esq), Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR) participam de debate dos candidatos ao governo do Distrito Federal (Pedro Ladeira/Folhapress)

Preso nesta terça-feira pela Polícia Federal (PF) por suspeita de ligação com um esquema que superfaturou o valor das obras do estádio Mané Garrincha, o ex-governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT) foi o responsável por abrir um período de longos 12 anos de controle do PCdoB sobre o Ministério do Esporte, então recém-instituído. Na gestão dele que foi criado o Bolsa Atleta, principal programa de apoio ao esporte no país, e também o programa Segundo Tempo, que teria sido usado pelo partido para financiar suas campanhas.

Até 2003, o esporte nunca teve um ministério exclusivo e contínuo. Pertenceu ao MEC (educação) e dividiu a pasta com o Turismo durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Só quando Lula (PT) assumiu, já com os Jogos Pan-Americanos de 2007 em vista, é que foi criado o Ministério do Esporte.

Eleito deputado federal pelo PCdoB do Distrito Federal, Agnelo foi o escolhido pelo partido para ser o primeiro a ficar à frente da pasta. A primeira missão era organizar o Pan de 2007, no Rio, que ficou conhecido por custar mais de 10 vezes o valor inicialmente previsto.

Agnelo, porém, não esperou a realização do Pan e deixou o Ministério do Esporte em março de 2016, no prazo legal para poder se candidatar ao governo do Distrito Federal em outubro daquele ano. Sem apoio do PT, porém, acabou não disputando contra o seu agora companheiro de cela José Roberto Arruda, que viria a ser eleito governador, e concorreu a uma cadeira no Senado. Foi derrotado com 42% dos votos.

Até aquele momento, porém, Agnelo não tinha manchas em seu currículo. Tanto que coube ao seu sucessor, o então jovem Orlando Silva, outro militante do PCdoB, a função de defender o governo das críticas pelos gastos exorbitantes da organização do Pan. Em contrapartida, foi Orlando que ficou com os méritos pela aprovação de Lei de Incentivo ao Esporte, idealizada por Agnelo.

A partir de 2010, porém, denúncias sobre o passado de Agnelo no Esporte começaram a atingi-lo. Primeiro, a revista Época mostrou que, em junho de 2006, Agnelo declarou ao TSE que dispunha de R$ 45 mil em contas em quatro bancos e um apartamento no valor de R$ 78 mil. Menos de quatro meses depois, ele deu uma entrada de R$ 150 mil para a compra de mansão em uma área nobre de Brasília.

Depois, em 2011, o escândalo que derrubou Orlando Silva do Ministério do Esporte também o atingiu. À época, uma testemunha narrou como teria entregue R$ 256 mil de propina a Agnelo, em agosto de 2007. O dinheiro, desviado de convênios firmados com ONG's pelo programa Segundo Tempo, seria utilizado para o caixa 2 do PCdoB em campanhas.

Apesar das provas contundentes apresentadas à época, Agnelo conseguiu se manter no governo distrital e o Ministério do Esporte continuou sob o comando do PCdoB, que trocou Orlando Silva por Aldo Rebelo. A gestão comunista no esporte só acabou, parcialmente, em 2015, quando Dilma nomeou George Hilton, então do PRB. Mas, depois, já em meio ao seu processo de impeachment, ela acabou devolvendo o ministério ao PCdoB, por meio de Ricardo Leyser.

Neste terça, Agnelo e Arruda foram presos junto com o assessor especial da Presidência da República, Tadeu Filippelli, foi vice-governador na gestão de Agnelo. De acordo com a PF, o superfaturamento das obras do estádio Mané Garrincha, construído para a Copa do Mundo, pode chegar a R$ 900 milhões.

A Polícia Federal justificou os pedidos de prisões pela "existência dos fatos criminosos, a produção de prova pericial". Os investigadores ainda citam "a prática sistemática e habitual dos crimes de corrupção", além da "associação criminosa e lavagem de dinheiro estendida ao longo dos anos e dos governos do Distrito Federal". Outro fator que motivou as detenções é o prejuízo de quase R$ 1,3 bilhão que construção do estádio rendeu à Terracap, estatal utilizada para financiar a reforma do estádio, segundo a PF.

A operação usou como base delações premiadas da Andrade Gutierrez, responsável pelas obras. Segundo os delatores da empreiteira, os pagamentos foram viabilizados por meio de doações de campanha (formais e por meio de caixa 2), além da simulação de contratos de prestação de serviços. De acordo com os investigadores, os relatos apontam dezenas de pagamentos de propina que, em valores preliminares, somam mais de R$ 15 milhões.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.