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Olhar Olímpico

Nova confederação é criada: CBDA pode rachar em três e perder poder

Demétrio Vecchioli

22/05/2017 04h00

Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Uma nova confederação olímpica foi criada no Brasil na última quinta-feira e deverá ser registrada em cartório ainda nesta segunda. Trata-se da Confederação Brasileira de Saltos Ornamentais (CBSO), que tem como primeiro presidente Ricardo Moreira, há dois anos e meio o superintendente de saltos ornamentais da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Além disso, figuras importantes do polo aquático estão em conversas para também criarem uma nova confederação.

Atualmente, a CBDA é a entidade que regula todas as modalidades aquáticas no Brasil: natação, nado sincronizado, maratona aquática, saltos ornamentais, polo aquático e high diving (salto de penhasco, não olímpica). Ela é reconhecida pela Federação Internacional (Fina) e, consequentemente, pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), recebendo recursos do Ministério do Esporte. A comunidade dos saltos ornamentais, pequena, composta por apenas 12 clubes, porém, está descontente com essa situação.

Sem grandes resultados internacionais, os saltos ornamentais são, junto com o nado sincronizado, o último da fila para receber recursos da CBDA. Sem recursos, não forma atletas, não consegue exposição e, consequentemente, não alcança resultados. Foi pensando nisso que 41 pessoas se uniram na quinta, durante o Troféu Brasil, no Rio, e criaram a nova confederação.

"Os técnicos sempre sonharam em ter uma confederação só para os saltos e agora resolvemos tirar a ideia do papel. Eu entendo que a CBDA dê mais atenção para a natação, ou para as maratonas, porque são os esportes que dão mais resultado. A CBDA não está errada, ela está certa, mas se a gente ficar lá dentro a gente vai continuar sempre pequenininho. Se a gente quiser crescer, a gente tem que ter nossa autonomia", diz Ricardo Moreira, que também é técnico de Hugo Parisi e coordenador do Centro de Excelência da modalidade, localizado em Brasília.

A reunião contou com a presença de todos os técnicos de saltos ornamentais do país e com representantes de todos os atletas olímpicos da modalidade. "Toda a comunidade dos saltos ornamentais apoia essa proposta", garante Ricardo.

A proposta já foi levada ao interventor da CBDA, Gustavo Licks, que não se opôs, e também ao COB, onde Ricardo falou com Adriana Behar, gerente de planejamento esportivo. Segundo ele, a ex-jogadora de vôlei de praia "só ouviu", sem apoiar ou rejeitar a ideia. Em seguida, a sugestão foi apresentada ao secretário nacional de esporte de alto rendimento, Luiz Lima.

Ex-nadador, Lima desconhecia a possibilidade de entidades diversas gerirem os esportes aquáticos no Brasil, algo que EUA, Rússia, Canadá e Austrália já fazem. De acordo com Moreira, Lima achou a ideia "excelente". De fato, o secretário depois gravou um vídeo no Facebook incentivando o pessoal do polo aquático a também criar uma confederação nacional da modalidade.

No caso de polo, os clubes criaram a liga Polo Aquático Brasil (PAB), que no ano passado realizou seu primeiro campeonato nacional, que não foi reconhecido pela antiga gestão da CBDA. Recentemente, o Ministério do Esporte reconheceu o torneio como campeonato brasileiro de polo aquático, para premiar os campeões com o Bolsa Atleta. Nesta semana, o Botafogo, único clube grande que rejeitava a PAB e seguiu ligado à CBDA em 2016, filiou-se à PAB, num sinal de união da modalidade.

Como a eleição da CBDA acontece no próximo dia 9 de junho, a comunidade do polo aguarda a definição de quem será o próximo presidente para discutir uma possível separação. Já o pessoal dos saltos ornamentais pretende se encontrar com o próximo mandatário com toda a documentação formalizada e conseguir um acordo. Afinal, a CBDA precisa admitir à Fina o desmembramento dos saltos. Um plano B, conseguindo isso via Ministério do Esporte, seria muito mais desgastante.

Caso tenha sucesso em seu pleito, os saltos ornamentais podem ver os recursos disponíveis dispararem. Em 2017, a CBDA vai receber R$ 3,6 milhões da Lei Agnelo-Piva para distribuir por cinco modalidades olímpicas, priorizando, naturalmente, a natação. Caso, se torne independente, a CBSO receberia o piso: R$ 2,2 milhões, só para ela.

Pensando nisso, CBDA e COB se reuniram na sexta-feira e aproveitaram para tratar do tema. A atual gestão da CBDA afirma que não tem nada contra a iniciativa, mas deixa a decisão para o presidente que vencer a eleição em 9 de junho. Em nota, o COB disse que foi comunicado da criação da CBSO e ressaltou que "a competência para definir a entidade responsável pela modalidade é exclusiva da Fina".

Já o Ministério do Esporte não comentou as declarações do seu secretário nacional. A pasta lembrou que a Constituição determina que as entidades esportivas têm autonomia para a organização e funcionamento e que não cabe ao Estado reconhecer qualquer entidade como representativa. "Desta forma, o Ministério do Esporte não tem ingerência nessa questão. Cabe ao Estado o papel de fomento", encerrou.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.