Volta de Cielo faz natação brasileira recuperar imagem e ganhar força
Na lista de 16 convocados da natação brasileira para o Mundial de Budapeste, Cesar Cielo representa a possibilidade de renascimento de uma modalidade que parecia caminhar para o fundo do poço. Como Cielo, a natação brasileira também parece ter saído do fundo do poço e dado as caras ao mundo para avisar: "Estou de volta e não duvide de onde eu posso chegar".
O nadador passou pela frustração de ficar fora dos Jogos Olímpicos do Rio e chegou a ameaçar se aposentar. Ao voltar a nadar rápido, atraiu para si os holofotes que estavam em toda a crise que tomava conta da CBDA. Em nove meses, a entidade teve seu presidente afastado e preso, recebeu intervenção e, em meio ao vale-tudo do poder, virou um cachorro morto que não parou de ser chutado pela oposição política.
De tantos golpes que recebeu, a CBDA perdeu quase todo prestígio dela e da natação brasileira. A ponto de os Correios, patrocinador por um quarto de século, ameaçar retirar o patrocínio. A decisão pela manutenção da parceria ainda não foi tomada, mas parece não haver mais motivos para o fim do acordo. A imagem da natação está recuperada, assim como de seu maior expoente.
Do ponto de vista estritamente esportivo, Cielo hoje é coadjuvante na natação brasileira. Ele não vence uma prova individual do Maria Lenk desde 2014 (naquele ano, ganhou 50m e 100m livre e 50m borboleta) e, na semana passada, não passou de dois bronzes (50m borboleta e 100m livre) e uma prata (50m livre). Pelo critério definido para a convocação, o índice técnico, ele teria apenas a 15.ª vaga.
Ainda assim, é fundamental, seja pelo rendimento ou pela visibilidade. Cielo é hoje o sexto do ranking mundial dos 50m livre e, no Maria Lenk, nadou duas vezes na casa de 21 segundos. Se repetir isso em Budapeste, estará na final. E não é de hoje que Cielo diz que, nos 50 metros que decidem a medalha, tudo pode acontecer. Já nos revezamento ele é certeza de um tempo na casa de 48s, base para que nadadores mais rápidos (Gabriel Silva e Marcelo Chierighini) busquem medalha.
O cenário é idêntico para Bruno Fratus, que decepcionou a si mesmo ao não conseguir medalha nos Jogos do Rio. Sem "clube" (que pague salário) depois de não ter seu contrato renovado com o Pinheiros, ele saiu do Maria Lenk como quarto do ranking mundial e vai chegar à Hungria nadando pelo seu próprio sustento. Só aí, já nos 50m e 4x100m livre, já são três chances de medalha.
Some-se a isso os ótimos tempos de João Luiz Gomes Jr e Felipe Lima nos 50m e 100m peito, a capacidade de Etiene Medeiros nos 50m costas (é atual vice-campeã mundial) e o segundo melhor resultado da história feito por Nicholas Santos nos 50m borboleta, e a essa lista de possibilidades reais de medalhas já chega a nove. Dez com o revezamento 4x100m medley.
E ainda há renovação: Gabriel Santos, apenas 21 anos, é o terceiro do mundo nos 100m livre, enquanto Guilherme Costa, de 18, bateu este ano o recorde sul-americano dos 1.500m livre.
É bem verdade que, há um ano, a expectativa também era alta pela participação do Brasil nos Jogos do Rio e o resultado final foi para lá de decepcionante, diante da ausência de medalhas. Quase passou batido, porém, que a natação brasileira bateu recorde de finais (10) e de semifinais (18). Plantou o que pode vir a ser colhido em Budapeste.
E essa colheita é fundamental. Toda a crise de gestão e de imagem da CBDA fez com que os patrocínios fossem embora A atração de novos parceiros passa por bons resultados no Mundial e por uma exposição positiva da natação brasileira, voltado ao noticiário pelos resultados, não só pelas denúncias. E, nisso, Cielo pode ajudar muito.
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