Topo

Olhar Olímpico

Com agenda de deputado, ministro troca Brasília pelo Rio em 88% das sextas

Demétrio Vecchioli

28/04/2017 12h00

(Valter Campanato/ Agência Brasil)

Deputado federal licenciado, o ministro do Esporte Leonardo Picciani vem seguindo rotina de deputado no que diz respeito ao período de permanência em Brasília. Quase um ano depois de assumir o comando do Ministério, Picciani, que é carioca, só esteve na capital federal em duas sextas-feiras, sendo uma delas para a primeira reunião ministerial de Temer, em maio do ano passado. Recentemente, ele também tem passado as segundas-feiras no Rio – foi assim nas últimas sete semanas. Trabalho em Brasília só de terça, quarta e quinta. Questionado, o Ministério do Esporte não informou quanto gastou com tantas viagens do ministro ao Rio.

A Cidade Maravilhosa também foi a casa do ministro do Esporte durante boa parte do recesso parlamentar. Entre os dias 23 de dezembro e 15 de janeiro, ele sequer foi a Brasília. Levantamento feito pelo Olhar Olímpico a partir da agenda disponibilizada no site do Ministério do Esporte mostra que neste período ele teve 12 dias sem qualquer compromisso. Realizou apenas "expediente interno" na representação do Ministério do Esporte no Rio, num escritório alugado em Botafogo. Em fevereiro, a representação passou a atender no Parque Olímpico do Barra.

Nas últimas 45 sextas-feiras na qual a agenda do ministro é conhecida, ele passou o dia no Rio em 40 delas. Foram outras quatro no exterior e apenas uma em Brasília, na semana após seu pai, deputado estadual Jorge Picciani, ser levado por condução coercitiva pela Polícia Federal, no Rio. Ou seja: o ministro foi ao Rio em pelo menos 88% das sextas-feiras desde que ele de fato assumiu o ministério. Nas quatro sextas-feiras que seu destino é desconhecido, ele terminou o dia anterior no Rio.

Parte das viagens ao Rio aconteceu por conta da preparação para a Olimpíada, e depois, para cuidar do legado. Mas Picciani vai ao Rio às sextas-feiras mesmo quando não tem agenda pública. O levantamento feito pelo blog encontrou 12 ocasiões em que Picciani ficou no Rio apenas para realizar seu "expediente interno". Outros dois dias o ministro dedicou a receber políticos do Rio, especialmente prefeitos e vereadores. O Olhar Olímpico, porém, não encontrou na agenda de Picciani o mesmo tratamento a políticos de outros estados, visitados em suas regiões.

O mesmo vale para dirigentes esportivos, que, às sextas-feiras, não precisam ir a Brasília ao encontro do ministro. É Picciani que vai até eles. Em janeiro, por exemplo, o ministro foi ao Rio apenas para se encontrar com o presidente da Federação Brasileira de Jiu-Jítsu. Em 24 de março, teve um único compromisso: reunião com o presidente da Autoridade Pública de Governança do Futebol, órgão do Ministério do Esporte.

As únicas vezes em que Picciani não esteve no Rio às sextas, ele estava viajando para fora do país – foi a Nova York, Tóquio, Doha e Paris. A postura contrasta com a dos seus antecessores. Nos seis meses anteriores, os ministros George Hilton e Ricardo Leyser, juntos, visitaram 15 estados diferentes somente às sextas-feiras. Nesse período, foram cinco visitas ao Rio, que à época se preparava para receber os Jogos Olímpicos do Rio.

Viajar para a cidade natal às sextas-feiras é prática de certa forma comum entre ministros. Picciani, porém, não segue o padrão de colegas de Esplanada como Ricardo Barros, da Saúde. Natural do Paraná, em 2017 ele já encerrou a semana oito vezes em Curitiba ou Maringá. Em apenas dois casos, passou o dia todo no estado. Em cinco oportunidades, cumpriu agenda em outros locais e só pegou voo para casa após as 19h30.

Já Picciani não informa seus deslocamentos nem quando questionado. O Olhar Olímpico perguntou ao Ministério do Esporte de onde Picciani despachou em 3 de março (local não consta na agenda) e qual foi a agenda dele em 17 de março. Também quis saber se de fato Picciani esteve em Brasília no dia 7 de abril, única sexta-feira em que sua agenda citava despachos na capital. O ministério, porém, não respondeu aos questionamentos, da mesma forma que não informou se Picciani de fato ficou três semanas sem ir a Brasília entre dezembro e janeiro – ele não teve agenda na capital federal nesse período.

O ministério também não respondeu "por que o ministro tem preferido despachar do Rio às sextas-feiras" e "quantas passagens aéreas o Ministério do Esporte pagou para que o ministro Picciani se deslocasse ao Rio". Além disso, não informou quanto gastou com essas passagens.

A pasta comentou apenas que mantém escritório no Rio desde 2012, que lá estão sediadas a Autoridade Pública de Governança do Futebol (APFut) e a Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO) e que, em dezembro, determinou a transferência do escritório para o Parque. Também explicou que, por ter residência no Rio, não recebe diárias quando está na cidade. Ele também abriu mão de diárias em qualquer viagem no território nacional.

Confira como foi a agenda de Picciani às sextas-feiras:

21/abr – Feriado, não trabalhou. Terminou o dia anterior no Rio.

14/abr – Feriado, não trabalhou. Passou o dia anterior no Rio.

7/abr – Ministério não confirma se Picciani despachou em Brasília, nem se voou ao Rio. Agenda fala em despachos na capital federal.

31/mar – Reuniões e visitas relacionadas ao legado olímpico, no Rio

24/mar – Tarde livre após apenas uma reunião no Rio.

17/mar – Não trabalhou, após passar o dia anterior no Rio

10/mar – Evento em Paris (França)

3/mar – Ministério não informa a agenda de Picciani, mas ele estava no Rio no dia anterior.

24/fev – Visita ao Rio Open, no Rio

17/fev – Entrevistas para a imprensa e audiência no Palácio Guanabara, no Rio

10/fev – Reunião com integrantes do Grupo de Trabalho do Parque Olímpico, no Rio

3/fev – Reuniões com políticos do estado do Rio

27/jan – Audiências com políticos do Rio

20/jan – Reunião com dirigente do jiu-jítsu, no Rio

13/jan – Reunião com presidente do COB, no Rio

6/jan – Expediente interno no Rio

30/dez – Expediente interno no Rio

23/dez – Expediente interno no Rio

16/dez – Reuniões com Eduardo Paes, Del Nero e Nuzman, no Rio

9/dez – Reunião com Eduardo Paes, no Rio

2/dez – Ações de combate à Dengue no Rio

25/nov – Eventos no Rio

18/nov – Reunião com Eduardo Paes, no Rio

11/nov – Expediente interno no Rio

4/nov – Expediente interno no Rio

28/out – Expediente interno no Rio

21/out – Eventos em Tóquio, no Japão

14/out – Eventos em Doha, no Catar

7/out – Expediente interno no Rio

30/set – Expediente interno no Rio

23/set – Evento militar no Rio

16/set – Expediente interno no Rio

9/set – Expediente interno no Rio

2/set – Entrevista no Rio

29/ago – Entrevista no Rio

19/ago – Evento relacionado à Olimpíada

12/ago – Evento relacionado à Olimpíada

5/ago – Evento relacionado à Olimpíada

28/jul – Reunião com Eduardo Paes, no Rio

22/jul – Expediente interno no Rio

15/jul – Reuniões sobre a Olimpíada, no Rio

8/jul – Entrevista e reuniões sobre a Olimpíada, no Rio

1/jul – Reuniões no Rio

24/jun – Reuniões sobre a Olimpíada, no Rio

17/jun – Expediente interno no Rio

10/jun – Entrevista em Nova York, nos EUA

3/jun – Entrevista, reunião com Eduardo Paes e despachos no Rio

27/mai – Reunião sobre a Olimpíada, no Rio

20/mai – Visita ao Parque Olímpico, no Rio

13/mai – Primeira reunião ministerial de Michel Temer, em Brasília

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.