CBF negocia acordo de R$ 3,3 milhões para 'salvar' laboratório antidoping do Rio
Com a previsão de realizar 6 mil análises este ano, o Laboratório Antidoping de Controle de Dopagem (LBCD), no Rio, está muito longe de atingir a meta de 16 mil testes ao ano, mínimo necessário para o equilíbrio financeiro. A primeira estratégia para tentar diminuir esse rombo é convencer a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a realizar no Rio, e não nos Estados Unidos, as suas cerca de 6 mil análises anuais. Só isso injetaria pelo menos R$ 3,3 milhões nos cofres do antigo Ladetec.
O ministério do Esporte, que gastou R$ 188 milhões para reformar o laboratório da Universidade Federal do Rio (UFRJ), é quem financia o LBCD e, por isso, está diretamente interessado nesse acordo com a CBF. O secretário da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) Rogério Sampaio é quem está intermediando as negociações, mas os números colocados à mesa ainda estão distantes.
A CBF contrata o laboratório de Los Angeles, pagando 130 dólares por exame. Quando embutidos outros custos, como das viagens aos Estados Unidos para levar as amostras, o valor chega a R$ 542 por exame. As negociações com o LBCD começaram em mais de R$ 900, mas a última oferta feita pelo laboratório foi de R$ 616.
"Aí você vai me falar: 'Pô, mas por R$ 74 você vai deixar de prestigiar o Brasil?' Só que você precisa colocar isso em escala. São 6 mil exames. Dá uma diferença de R$ 450 mil por ano e parte disso é custeado pelos clubes. Eu não posso onerar eles dessa forma", comenta Jorge Pagura, presidente da comissão médica da CBF.
Pagura admite que o exame realizado na LBCD não precisa ser necessariamente mais barato que o laboratório de Los Angeles, mas argumenta que a diferença não pode ser tão grande. "Se for um pouquinho a mais a gente tem justificativa. Mas eu não posso justificar no fim do ano que gastei 450 mil reais a mais."
A CBF é uma das entidades que mais faz exames antidoping no mundo e deixou de utilizar o antigo Ladetec depois de duas falhas do laboratório em 2014, depois dos casos de falso positivo dos jogadores Deco e Carlos Alberto. Agora, Pagura garante que não falta vontade de voltar a contratar o laboratório carioca. "Não tem ninguém que gostaria mais do que nós de mandar esses exames para o laboratório do Rio", assegura.
Quem também tem enorme interesse num acordo é Francisco Radler, diretor do LBCD. "Há um relatório de auditoria da FGV no LBCD, solicitado pelo Ministério do Esporte, que indica que cerca de 16 mil amostras por ano levariam a um equilíbrio financeiro. Ainda não cobriria uma série de custos fixos, mas já seria um avanço para uma atividade que dá prejuízo em 95% dos laboratórios acreditados pela Wada (Agência Mundial Antidoping)", argumenta. O laboratório do Rio e o de Havana são os únicos em funcionamento na América Latina.
A LBCD já enxugou custos, mas agora um acordo depende das negociações entre a ABCD e a CBF. O impasse ainda existe. Para Rogério Sampaio, a CBF pode pagar um pouco a mais e "dar esse retorno para o esporte brasileiro". Já Radler lembra "é interesse do governo que brasileiros usem o LBCD, que foi viabilizado com verba federal". Já a CBF ressalta que não recebe subsídios do governo e que este, por sua vez, pode subsidiar o preço ofertado.
Ao ser declarada novamente "em conformidade" com o código mundial antidoping pela Wada, há duas semanas, a ABCD voltou a ter permissão para colher exames antidoping. A entidade tem expectativa de realizar cerca de 4 mil análises no LBCD, ao custo de cerca de R$ 4 milhões. Outros 2 mil exames vêm de outras entidades nacionais que não têm escala para levar as análises para fora do país.
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